sábado, 31 de julho de 2010

Algumas palavras sobre o amor


"O mal nunca está no amor."
André Gide


Estive pensando a respeito do amor, e, por favor, não estou falando aqui dessa coisa idealizada, empacotada e comercializada que conhecemos por amor romântico. Fomos tão inundados por essas idéias de romance e encantamento que acabamos por esquecer o verdadeiro significado dessa palavra. Para mim, particularmente, o amor vai muito além dessa baboseira de romance.
Outro dia escrevi uma frase em meu Orkut e vi brotarem comentários perguntando se eu estava apaixonada ou quem era “ele”. Bom, ele era uma menina... A frase se referia a uma de minhas amigas. Se falava de amor? É claro! E acaso a amizade não é um dos tipos mais complexos de amor que existe?
Queria saber quem foi que ditou as regras... Quem foi que disse que só se pode falar de amor quando esse está ligado diretamente ao romance ou ao sexo? E mais: o que tem haver amor com sexo?
Amizade é amor. Não tenho dúvidas sobre isso.
Desde sempre entendi que amor era o principio, o meio e o fim de tudo. É pelo amor que viemos a este mundo; pelo amor atravessamos a vida e é só o amor que resta no final. Nenhuma de nossas conquistas materiais, físicas e temporárias vai permanecer quando morrermos, exceto o amor, aquele que distribuímos e o que recebemos. Mas estamos tão desacostumados a pensar sobre isso dessa maneira...
Sempre acreditei que amor é sinônimo de cuidado, preocupação, dedicação, entrega, respeito e outras tantas coisinhas que se somam. Nunca vi o amor como domínio exclusivo de um casal (homem x mulher), restrito a namoro, casamento e sexo. Sempre encarei este sentimento como a fonte de toda a vida, a razão que motiva tudo no universo.
Enquanto eu crescia, descobri que o amor que nos ensinavam era só um sentimento egoísta que muito mais tinha de orgulho e auto-proteção do que de verdadeiro amor. Homens procuram por mulheres que possam fazer com que se sintam mais “machos”, que possam exibir aos amigos como troféus de caça e, em alguns casos, procuram por uma substituta de mãe. Mulheres procuram por homens que a façam sentirem-se mais “fêmeas”, que satisfaçam sua necessidade de aprovação, que atendam sua vaidade e, do mesmo modo que os parceiros procuram alguém que preencha o papel de pai. Ah! Mas eu incorri no mesmo erro que tanto critico, detive-me ao amor romântico.
E não são os mesmo motivos que nos aproximam de todas as pessoas? Escolhemos amigos pelo status que podem nos dar, pelas vantagens que possamos extrair dessa associação, pelo quanto eles nos tratem bem, pelo quanto são inferiores a nós (acreditem! A quem se julgue superior e crie uma rede de amizades de pessoas supostamente inferiores apenas para que continue a garantir seu lugar no topo!). Mulheres se sentem ameaçadas por amigas mais bonitas, solteiras, mais livres, mais ousadas... Homens se sentem ameaçados por amigos mais bem sucedidos, mais ricos, solteiros... E eu me pergunto onde é que está o amor em tudo isso?
Já ouvi boas pessoas, dizerem que não poderiam ser amigos dessa ou daquela pessoa por que se comportavam de determinada maneira. Já ouvi perfis bem traçados do que amigos poderiam ou não fazer. Já ouvi tantas coisas que nem sei como descrever... Mas sempre ouvi muito pouco sobre o amor.
Eu tenho minha cota de amigos. E costumo brincar dizendo que não tenho talento para atrair pessoas normais. E é verdade! Tenho uma tendência engraçada a me aproximar de pessoas com problemas dos mais diversos, antes mesmo que imaginar que elas possuam tais dificuldades. E estou falando desde pessoas com problemas familiares até depressivos como eu. Meus amigos não são perfeitos, bem como eu mesma não sou. Muitos deles, senão todos são muito melhores que eu em tantos aspectos que chego a me envergonhar. E eu os amo profundamente.
Amo-os ainda mais quando brigamos. Sempre elogiei a sinceridade e a franqueza nas pessoas, pois são de fato características que admiro e que procuro cultivar em mim mesma. Quando um amigo se atreve a me criticar, muitas vezes de forma dura, minha estima por ele cresce. Há um pouco de egoísmo nisso, é claro. De todo modo eu estou usando meus amigos para meu próprio crescimento pessoal. Mas há nisso um tanto mais de amor que supera qualquer outra coisa.
Já fui questionada por causa de minhas amizades dúzias de vezes. Por que eu sustento essa ou aquela amizade quando aparentemente não recebo nada dela? Eu nunca tive uma resposta para isso. Por amor é tudo o que eu posso dizer. Amor não se escolhe, ele simplesmente acontece. Se eu escolhesse amar apenas as melhores pessoas, com as melhores características, isso não seria mais amor e sim puro interesse. Eu apenas deixo o amor fazer as escolhas...
Ao longo da minha vida, aprendi que o amor nos ensina a compreender que a razão é uma coisa muito relativa e geralmente mesquinha. Ter ou não razão não importa nada quando o que está em jogo é algo superior. Aprendi que o amor nos ensina a respeitar; que diferenças não são motivos para declarações de guerra. Aprendi o significado de coisas como incondicional e desinteresse. Entendi que o que me move a fazer qualquer coisa pelo outro é o amor que sinto e não o que o outro sente por mim ou o que eu posso lucrar com isso.
O amor, como um jogo de interesses, é bem mais agradável, é verdade. Afinal está baseado numa troca infinita. O amor em si é um “dar e receber”, de fato. O problema é que cismamos na certeza de que esse “receber de volta” tem necessariamente que vir do outro, diretamente, na forma de alguma coisa feita ou dita. Mas não é assim.
O “dar e receber” do amor é bem mais sutil que isso. Esse retorno, que muitos de nós não vemos chegar das mãos do outro, está, na maior parte das vezes, encerrado no próprio ato de dar. Muitas vezes só entendemos o quanto alguém nos deu em troca quando essa pessoa já não está conosco e depois que o acusamos infinitas vezes de ingratidão. Bom, como muitas coisas nesse universo, nem sempre recebemos aquilo que esperamos ou que achamos que devemos receber, mas sempre recebemos o que merecemos e o que precisamos... Toda vez.
Eu poderia escrever sobre isso por horas, sobre todos os tipos de amor que conheço e aqueles que ainda não conheci, mas sou capaz de reconhecer quando vejo... Sobre os sinônimos que se foram criando ao longo do tempo e que perderam sua relação original com o sentimento que lhes deu origem (como a caridade, por exemplo). Sobre a gama infinita de sentimentos que está encerrada no sentido amplo do amor e sobre as tantas recompensas que existem nele.
No fim ainda penso que o mais importante seja esse sentido de que o amor é tudo o que há. Pelo que vale viver e pelo que vale morrer. Que o amor, por si só já nos dita suficientes regras morais e comportamentais que poderiam dispensar tantas outras que trazemos penduradas em nós...
Mas é claro que isso são apenas conjecturas e reflexões...