sábado, 7 de agosto de 2010

Quando falta alguma coisa

"O que a maioria de nós leva para o relacionamento não é a plenitude, mas a carência. A carência implica uma ausência dentro de si... A carência é uma força poderosa, capaz de criar ilusões poderosas. Ninguém pode realmente entrar dentro de você e substituir a peça que está faltando."

Deepak Chopra


Todos nós, sem exceção, temos necessidades. Coisas das quais precisamos para nos sentirmos seguros, felizes e confortáveis. O caso é que nem sempre conseguimos reunir todas essas coisas, por falta de oportunidade ou por falta de habilidade... De qualquer modo, quando nos falta alguma dessas necessidades nos tornamos carentes disso. De certa forma, todos nós sofremos de algum tipo de carência.

O problema não está em se ter ou se reconhecer essas carências. Todo o problema começa quando, instintivamente, tentamos substituir o que nos falta por outra coisa. Geralmente o que nos faz falta está fora do plano material, não é algo que podemos comprar, armazenar ou adquirir. De fato, a maior parte de nossas carências, senão todas, reside no campo dos sentimentos, fora do alcance da razão.

Por diversos motivos temos dificuldades em admitir essas faltas. Ás vezes por que simplesmente não as reconhecemos, outras vezes por que temos vergonha ou somos orgulhosos demais. De todo modo, o que fazemos é ignorar a ausência real e nos apoiarmos em outra coisa. Algo que possamos adquirir, que possamos ter quando sentirmos vontade.

Algumas pessoas preenchem o vazio de suas carências com coisas materiais. Tornam-se compradores compulsivos, gastando, muitas vezes, além do que poderiam; transformam-se em glutões, comendo além da necessidade natural, sem muitas vezes compreender de onde vem tanta “fome”. Outras vezes procuram substituição em outras esferas e aí encontraremos pessoas viciadas em sexo, ou aquelas que vivem relações de excessivo apego que geralmente se tornam repetitivas e algumas vezes destrutivas.

O que acaba ocorrendo em todos os casos é que a carência real nunca é preenchida e a necessidade criada para substituí-la nunca é plenamente satisfatória, além de criar outros problemas.

Não importa o quanto compremos roupas novas e o quanto nosso armário esteja cheio, aquela estranha sensação de vazio ainda vai estar lá no final do dia, sempre que virmos as roupas ainda com as etiquetas; durante todo o passeio pelas lojas. Nunca será o suficiente! Por que o que nos falta de verdade não são roupas melhores ou mais bonitas e sim alguma outra coisa. Estaremos provavelmente endividados, com muito mais roupas do que precisaríamos e ainda sentiremos que algo está faltando.

Podemos comer quanto formos capazes, devorar uma sem conta de sanduíches de fast food, tortas e doces. Tudo o que ganharemos com isso serão alguns quilos a mais, talvez o aumento das taxas de açúcar e gordura no sangue, a sensação de culpa comum por termos ultrapassado os limites. Enfrentaremos um novo problema: a estética. E ainda assim, o vazio interno, a “fome” interminável não irá embora.

Quando colecionamos amantes, podemos até termos alguma fama em nosso círculo de amigos, podemos nos vangloriar do nosso poder de sedução e da quantidade de parceiros que tivemos, arriscando muitas vezes a saúde e, em alguns casos, a tranqüilidade. Mas ainda que tenhamos sempre companhia em nossas camas perceberemos, quando estivermos sozinhos, que o vazio que nos consome permanece dentro de nós e parece ficar cada vez maior.

Colecionadores, viciados, pessoas que amam demais, viciados em trabalho, desafiadores da morte... Todos que se dedicam excessivamente a uma única atividade, na maioria das vezes estão tentando preencher uma lacuna deixava há muito tempo.

Reconhecer o que realmente nos faz falta é o primeiro passo e o mais complicado. São poucos os que conseguem esse reconhecimento sozinhos. Mas podemos identificar com alguma facilidade que repetimos o mesmo comportamento, sem pausa, sem no entanto nos sentirmos satisfeitos, mesmo quando percebemos que estamos nos excedendo naquilo que fazemos.

O mundo moderno está edificado sobre nossas carências. As campanhas publicitárias são construídas para oferecer substitutos artificiais para o que nos faz falta desde a infância. Para pouco tempo com os pais, um super vídeo-game! Se o problema forem pais separados, a última geração em brinquedos. Para crianças com poucos amigos, tudo o que quiserem comer... Desde muito jovens somos direcionados para essa substituição parca e insatisfatória. Depois de adultos repetimos o padrão e repassamos aos nossos filhos. Um círculo vicioso de carência e infelicidade.

O que temos que ter em mente é que é impossível substituir certas coisas. Se perdemos alguém que amamos, não iremos recuperar o que tínhamos com essa pessoa numa nova relação, nem iremos preencher o espaço deixado por ela com compras ou alimentos. Nada pode preencher o vazio deixado pelas horas em que não estivemos com nossos pais, as reuniões familiares perdidas, os amigos que se foram... Não podemos preencher nossa solidão com sacolas e pratos cheios ou grandes faturas de cartão de crédito.

Quando alguma coisa faz falta precisamos um tanto de coragem para reconhecermos nossa carência e outro tanto mais para buscarmos preencher esse espaço com o que realmente necessitamos. Talvez seja um abraço ou um pedido de desculpas, talvez seja um pouco mais de tempo para estar com a família, talvez precisemos dar um pouco de nós para recuperar aquilo que em outro tempo não tivemos... Seja como for, olhar para dentro e prestar um pouco de atenção muitas vezes resulta em muito mais lucros do que podemos imaginar.

Mas é claro que sempre estaremos em busca de algo que nos complete, só falta-nos descobrir o que...